segunda-feira, 3 de março de 2008

A exclusão e Inclusão digital no mundo "Diogo Serradourada II°SI"



A exclusão e Inclusão digital no mundo

O termo exclusão digital (digital divide) tem a sua origem em meados da década de 1990 com a publicação de um artigo de Jonathan Webber e Amy Harmon no jornal Los Angeles Times em 1995, de acordo com Larry Irving da Irvinfo.com; Andy Carvin da Benton Foundation diz que no início de 1996 houve uma declaração do então presidente dos EUA Bill Clinton e do vice-presidente Al Gore em que ambos citam o termo digital divide num discurso realizado em Knoxville, Tennessee.
De acordo com a OCDE (2001), a exclusão digital refere-se à distância entre indivíduos, famílias, empresas e regiões geográficas em diferentes níveis sócio-econômicos com respeito, simultaneamente, às suas oportunidades de acesso às tecnologias de informação e comunicação (TCI’s) e o uso da Internet para uma ampla variedade de ações e atividades. Há outras formas para definir a exclusão digital: uma delas remete à distância entre os que estão fazendo uso das novas tecnologias e os que não estão, de acordo com
Robert Anthony (2000) e Wallys W. Conhaim (2000); de acordo com John N. Berry III (2000), refere-se ao abismo de informações existente entre os que têm acesso às novas tecnologias e os que estão alijados desse processo. Para Silveira (2001, p. 18): “a exclusão digital ocorre ao se privar as pessoas de três instrumentos básicos: o computador, a linha telefônica e o provedor de acesso.” O autor ressalta que a exclusão digital não é mera conseqüência da exclusão social.
De fato, a exclusão digital não é uma conseqüência direta da exclusão social, apesar do fato de estar excluído socialmente em termos de renda, educação e emprego, entre outros, acaba interferindo negativamente na exclusão digital. Faz-se, assim, necessária uma distinção entre as duas formas de exclusão, pois há uma certa semelhança entre elas: a exclusão digital não está restrita ao fator renda (apesar de ser limitada por ela), algumas pessoas, ainda que com renda compatível para o acesso e uso da Internet, por exemplo, não faz uso das novas tecnologias por opção ou até mesmo por desconhecimento e repulsa (Lenhart, 2000); a questão geracional (Tapscott, 1999) é um fator que interfere no processo de inclusão/exclusão digital. Percebe-se que entre os mais jovens a absorção da TCI é muito mais rápida se comparada com as camadas da população com mais idade; a educação é um dos fatores limitantes ao acesso e uso das novas tecnologias (OCDE, 2001), não saber ler em inglês, por exemplo, impede o uso de boa parte das informações presentes na Internet (OCDE, 2001); a exclusão digital está diretamente ligada à infra-estrutura de comunicação, como, por exemplo, telefone, provedores, aparelhos, etc., em outras palavras, pode-se ter as condições e a predisposição para o uso das novas tecnologias, mas sem uma infra-estrutura mínima não há como ter acesso e muito menos o uso das novas tecnologias (Lafis, 1999). Em suma, múltiplos fatores, em variados contextos, impedem ou dificultam o processo de inclusão digital.
Por outro lado, a exclusão digital é tratada de forma semelhante à exclusão social, havendo inclusive uma associação entre elas: muitos projetos e iniciativas de inclusão digital defendem uma perspectiva de capacitação técnica para aumentar o poder de competitividade das pessoas por um emprego - percebe-se que uma forma de inclusão baseada na lógica de mercado, ou seja, a tecnologia sendo utilizada para um aperfeiçoamento profissional. Fala-se também num processo de alfabetização digital, em bases semelhantes ao processo de combate ao analfabetismo. Os discursos e análises relativas ao tema recaem, quase sempre, na questão da pobreza e da miséria, ou seja, da mesma forma como na exclusão social, busca-se explicar o fenômeno da exclusão digital baseada na falta de renda; esquecem-se, porém, os componentes culturais e sociais, focando-se demasiadamente no fato em si, e não no processo e na dinâmica que excluem as pessoas e as organizações no acesso e uso das tecnologias. Como conseqüência quase que imediata, almeja-se saber “quantos são os que estão excluídos do mundo digital”, os que ocorre em boa parte das análises de pobreza e exclusão social, porém a dificuldade no critério, assim como a própria necessidade de se contar ou dimensionar a exclusão digital ainda estão sendo debatidos.
Há uma certa predominância em olhar a questão da exclusão digital como problema, ou seja, a inclusão digital como solução. Vale, porém, uma reflexão semelhante ao que o economista Amartya Sen (2001) faz da desigualdade (o autor faz uma pergunta central: igualdade de quê): inclusão digital para quê? Numa perspectiva capitalista e dos seus valores e princípios que são dominantes na atualidade, vê-se na exclusão digital um problema de inclusão social via mercado, pois sem estar incluído digitalmente, fica ainda mais difícil conseguir um emprego ou até mesmo manter-se empregado. Cria-se, assim, uma expectativa de que ao fazer um curso de informática ou atualizar-se em ferramentas tecnológicas, haverá uma oportunidade de emprego em troca. Essa é uma promessa no mínimo perigosa e até mesmo irresponsável, pois quem pode garantir que uma capacitação em tecnologia seja um passaporte para o mundo do trabalho?
Castells (1998) faz a ressalva de que devido ao crescente número de desempregados e conseqüente precarização do mercado de trabalho é possível que haja uma situação de não-empregabilidade dos qualificados. Para o autor, o aumento de escolaridade e a capacitação não são garantias de emprego. Demo (1998, p. 103) reforça a crítica ao discurso da empregabilidade: “(...) uma preparação melhor para o trabalho e mesmo permanente para o emprego acaba facilitando a informatização, com conseqüente redução da presença física do trabalhador e barateamento do custo dos mais especializados”. Em que pesem os argumentos de que as novas tecnologias vêm abrindo novas oportunidades de trabalho, é preciso perceber que o volume de empregos formais disponível é menor que o número de pessoas que querem entrar no mercado.
A revolução da tecnologia e a sua presença em todas as esferas de atividade humana, por um lado, não implica que novas formas e processos sociais sejam conseqüências da transformação tecnológica. Segundo Castells (1999, p. 25): “é claro que a tecnologia não determina a sociedade. Nem a sociedade escreve o curso da transformação tecnológica, uma vez que muitos fatores, inclusive criatividade e iniciativa empreendedora, intervém no processo de descoberta científica, inovação tecnológica e aplicações sociais, de forma que o resultado depende de um complexo padrão interativo.” Dowbor (2000, p. 10), fala sobre um momento de incertezas em relação às novas tecnologias de comunicação e informação: “O que é visível nesta transformação, é sem dúvida apenas a ponta do iceberg. Estamos vivendo os primeiros momentos de um processo que já podemos identificar como extremamente profundo nas suas repercussões, mas cujas formas ainda mal vislumbramos. O essencial, para nós, é deixar claro que a revolução radical nas formas como a humanidade desenvolve, organiza, comunica e utiliza o conhecimento implica numa transformação das próprias bases da sociedade, inclusive do que chamamos de modo de produção”.
Dowbor (2000, p. 15) cita um estudo do World Information Report da Unesco: “A falta de acesso democrático à informação significativa implica na dificuldade do cidadão exercer os direitos humanos de forma geral. Neste sentido o acesso à informação deve ser universal, público e gratuito. A cultura é um bem universal, essencial da nossa humanidade”. A partir disso, verifica-se a possibilidade de construção de uma inteligência coletiva, que é definida por Lévy (2000, p. 28): “é uma inteligência distribuída por toda a parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva de competências.” O autor complementa a sua definição, ressaltando o que ela não é: “não se deve, sobretudo, confundi-la com projetos ‘totalitários’ de subordinação dos indivíduos a comunidades transcendentes e fetichizadas.”

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